As gotas de chuva atingem o pobre telhado onde me escondo, em um único padrão.

Odeio padrões, odeio sons. Mas tenho que aguentar esse inferno de realidade. E aceitar que não posso sair do meu esconderijo.

Ele não pode me achar, ele não pode saber que ainda estou aqui.

Droga, estou ficando louca. Louca pelo que aconteceu, louca por essa tortura.

Há sangue ao meu redor. Sangue fresco, eu não fora à única que tentara me esconder aqui. Porém, estou sozinha agora.

Ouço passos. Ele está se aproximando. Meu fim está próximo.

Por que eu havia feito isso? Agora não havia volta. Ele iria me achar, pelo meu cheiro, pelo cheiro do meu sangue, que se misturava com o da última pessoa - ou ser - que havia estado ali.

O barulho da chuva está mais forte. Não parece mais apenas pequenas gotas. Parecem adagas. Minha cabeça vai explodir. E os passos, estão mais próximos.

Um grunhido, alto e mortal, ecoa ao meu redor. Recolho - me, o medo se misturando ao frio. Tremo, mas não permito - me fazer algum barulho que me entregue. Eu não vou desistir agora.

Prendo a respiração. Consigo sentir seu cheiro do lado de fora. E aposto que ele sente o meu também. Ele cheira a canela, a chocolate. Mas eu sei que é apenas um truque. Para chamar minha atenção, para que eu me aproxime.

Não adianta mais tentar. Eu sei que já perdi. Sua respiração já está se misturando com a minha, mesmo estando do outro lado do meu esconderijo.

Acabou, game over. Ele me achou. Me olhou bem nos olhos, e deu um sorriso vitorioso. Depois deu risada e me puxou para perto dele.

- Olhe só para você, Lucy. Aprontando novamente?

Respirei fundo e olhei para mim mesma. Minhas roupas estavam totalmente cheias de calda de morango e glacê.

Ele riu. Me pegando no colo.

Havia vencido mais uma vez. Ele me achara.

Enquanto a água quente do chuveiro caia sobre mim, eu ainda conseguia ouvir a chuva ao fundo. E o mesmo padrão se repetindo.

Um, dois, três, quatro.