Não Sou Apenas Mais Alguém
O relógio desperta, novamente. Seu toque é frenético, assim como as batidas do meu coração ao acordar de susto. Levanto. O sol não levantou ainda, o céu está escuro, assim como as olheiras que recobrem os meus olhos turvos.
Me arrumo, saio no frio da manhã. O vento dança entorno do meu cabelo, fazendo os fios rodopiarem uma bagunçada valsa. Finalmente chego no prédio. Grades, sujeira, vidros quebrados. Seria uma prisão? Ou apenas mais uma escola?
Papéis me cercam, assim como ruídos e gritos. Minhas mãos estão arranhadas, vermelhas. Escrevo e escrevo, encho o papel branco de palavras vazias. O motivo? Não posso esquecer o que é me dito, pois irei precisar disso. Certo?
Agora o sol se levantou sob o céu, com seu brilho e calor intenso. Pego o ônibus lotado, o suor e os odores se misturam, nauseando os mais frágeis.
Chego em casa, o escuro está retornando ao céu, em pinceladas de azul escuro e preto. Junto com a noite, as estrelas brilham, mas não posso vê-las. Preciso encarar os papéis que estão a minha volta.
São muitos, são extensos. Minha mão novamente ganha arranhões. Arranhões de dor, de estresse. Meu cabelo está bagunçado, cai sob o monte de folhas brancas.
Eu acordo, novamente. Dessa vez, não na cama, mas sim, na mesa. Meu corpo dói, minhas olheiras, estão mais profundas, mas não posso me permitir parar. Levanto, novamente enfrento o frio, novamente enfrento o sol, o suor, o cansaço. Faço isso todos os dias, todas as semanas, todos os meses, todos os anos.
Sou uma artista, amo a arte. Mas eles não amam. Eles amam papéis. Eles amam perguntas, mas não amam respostas. Eles não querem pensamentos, querem obediência.Não posso criar, não posso falar. Só posso sofrer, só posso parecer. Parecer em meio a multidão de pessoas iguais. Sem destaque, sem brilho. É isso que eles querem.
Mas não, não é isso que eles terão.
Eles precisam das suas mãos, suas pernas, seus membros. Eles não precisam da sua mente, muito menos, do seu coração. Você não pode seguir você mesmo, apenas pode seguir eles.
Mas, se as regras existem para serem quebradas, por que não podemos estilhaçar algumas em pedacinhos?
Fonte da imagem: Tumblr |
6 Comentários
Que texto hein? Mas é bem isso no fim das contas... as pessoas acham confortável ter uma rotina e todos devem seguir do mesmo jeito... Quem quer fazer algo diferente é estranho, é ruim e deve ser apagado imediatamente antes que cause "confusão"...
ResponderExcluirAinda bem que nem todos pensam assim... o mundos seria muito chato... rs
Bjks!
Mundinho da Hanna
Exatamente!
ExcluirNossa, você escreve muito bem. Achei o texto bastante questionador e filosófico. Estou vivendo a fase que me perguntar se quero seguir o mesmo caminho que todos, eu tenho muitos desejos e a maioria segue a contramão do "normal". A vida é assim, se arriscar e ser feliz com aquilo que realmente importa pra você. Amei!
ResponderExcluirMuito obrigada <3
ExcluirOla, tudo bom?
ResponderExcluirQue texto super incrível!
Diz muito sobre meus pensamentos e como vejo meus dias, é muito bom ler textos assim e ter a oportunidade de refletir.
Amei!
Fico feliz que tenha gostado!
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