Resenha de 'A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica', por Walter Benjamin
Foto Autoral |
Autor: Walter Benjamin
Editora: L&PM
Páginas: 160
Sinopse: Um dos trabalhos aos quais Walter Benjamin (1892-1940) mais se dedicou e também um dos que mais apreciou escrever, A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica é sem dúvida seu texto mais influente. Como o título já sugere, o ensaio anuncia as mudanças operadas pela modernidade: o advento da fotografia e do cinema – e as transformações trazidas pela técnica empregada nestes dois campos – mexem com o status da obra de arte, retirando-lhe o que Benjamin chamou de “aura”, ou seja, aquela característica que a torna única, a experiência da contemplação “aqui e agora”. Para além do artístico, o autor revela as consequências dessa revolução para os campos social e político. O texto foi publicado pela primeira vez em 1936, em francês, na revista do Instituto de Pesquisas Sociais, ponto de convergência de um grupo de pensadores que daria origem à Escola de Frankfurt. Teria ainda outras três versões, todas póstumas. Somente nos anos 80 veio a público a segunda versão, que aqui apresentamos. Com notas e variantes, esta edição oferece, pela primeira vez em língua portuguesa, uma visão global das quatro versões existentes deste que é um dos textos fundamentais para se compreender as mudanças sociais e políticas do século XX, cujos ecos continuam a se estender nas reflexões contemporâneas. A história da publicação de A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica é um pouco a história da errante vida de seu autor, Walter Benjamin. Além da primeira versão, escrita em 1935 e publicada com inúmeros cortes em 1936 em francês, o texto teve outras três versões, todas publicadas após a morte do autor. Já na época de sua concepção, o ensaio recebeu diversas críticas, incluindo de Max Horkheimer e Theodor Adorno, que escreveu uma carta ao autor (aqui reproduzida) fazendo uma leitura negativa do trabalho. Até os anos 80, a terceira versão, escrita entre 1938 e 1939, foi a que teve a maior influência na recepção do texto. Somente após a morte de Horkheimer, com a abertura de seus arquivos, se teve acesso a esta que foi denominada segunda versão, conhecida por ser a mais radical e ousada do ponto de vista político e da teoria da técnica, incluindo também inúmeras notas e apresentando a famosa “teoria da segunda técnica”. Esta edição leva em conta as quatro versões do ensaio, colocando em primeiro plano a segunda versão, mas incorporando vários fragmentos e variantes que compõem a complexa estrutura do ensaio benjaminiano sobre a obra de arte.
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Em A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica, o sociólogo Walter Benjamin apresenta ao leitor uma análise das transformações da obra de arte e do seu conceito dentro da sociedade, além de expor também como o ser humano se moldou a partir dessas mudanças.
Em um primeiro momento, Benjamin introduz o conceito da reprodutibilidade técnica, que consiste na reprodução da obra de arte, através da fotografia e da sua exposição. O autor acaba por relacionar esse termo com a autenticidade da obra em si, que não é nada mais que a sua unicidade. Quanto mais reproduzida e multiplicada é determinada arte, menos autêntica ela é, já que essa característica única acaba se perdendo, uma vez que esse trabalho se torna presente em diversos meios diferentes do seu “eu” original.
Pode-se associar esse contexto com quadros de renome da atualidade, como “Noite Estrelada”, a famosa pintura do artista Van Gogh. Atualmente, as pinceladas tão conhecidas do quadro estão presentes em tantas estampas de camisetas, xícaras, cadernos e outros objetos, que é simplesmente impossível não a conhecer. Por conta disso, a obra acabou perdendo sua autenticidade, visto que ela não é mais única.
Obra: Noite Estrelada | Artista: Van Gogh |
Outro termo que Benjamin cita e que podemos conectar com essa situação se denomina “aura”. No texto, o autor a caracteriza como uma espécie de sentimento, um manto que emana da obra de arte. Quando uma pessoa está cara a cara com determinada pintura, por exemplo, é possível que, dependendo de sua sensibilidade artística, ela perceba essa aura, já que a mesma se manifesta em emoções que fazem o indivíduo sentir-se conectado a arte e ao autor dela, que nesse caso, seria o pintor. Entretanto, quando esta obra se torna alvo da reprodutibilidade, sua aura se dissipa, pois é muito difícil criar uma ligação com algo que vemos em diversos lugares. Nossa imaginação se limita, assim como nossa sensibilidade em relação aquele trabalho.
Exemplo de reprodução técnica: Coleção da Vans inspirada nas obras do pintor Van Gogh |
Ao decorrer do texto, também é apresentado ao leitor a definição do valor do culto e do valor de exposição de uma obra de arte. Nessa parte, ele relaciona o culto com a exemplificação das estátuas divinas presentes dentro de um determinado templo - elas não têm necessariamente a função de serem expostas, tem apenas um significado mítico e teológico. Já o valor da exposição é exatamente o polo contrário, pois o mesmo pode ser associado com a preocupação que o artista tem em expor sua obra, ele quer que ela seja vista, e Benjamin exemplifica isso com a substituição das estátuas por bustos, algo muito mais fácil de ser deslocado e exibido em locais públicos.
Obra: Pietà | Artista: Michelangelo |
Quando o valor da exposição começa a ganhar mais espaço na sociedade do que o valor do culto, pode-se perceber como o indivíduo se transforma dentro de suas relações humanas. Um exemplo disso é a alta qualidade de expor do cinema, que foi criado exatamente para esse fim.
O cinema acaba por construir uma ponte entre os indivíduos, que estão em uma mesma sala com um objetivo em comum: assistir determinada produção. A quantidade de pessoas presentes ali e em outras sessões realizadas posteriormente é gigantesca, o que já torna o cinema em si uma grande obra de reprodutibilidade – que foi muito utilizada para propagandas de cunho político, inclusive –que consequentemente, a qualifica como algo sem aura, possuindo apenas um grande valor de exposição.
Imagem meramente ilustrativa | Filme: A Invenção de Hugo Cabret |
Destarte, vale ressaltar que Walter Benjamin executa todo esse assunto em seu texto com maestria, utilizando-se de exemplos bem feitos e agregadores para o leitor, que o farão refletir sobre seu cotidiano na época atual. É uma obra recomendável para diversos públicos, principalmente para grupos de estudantes da área da comunicação e ciências humanas que tenham interesse em polir-se sobre o modo que o ser humano se transformou na sociedade, devido modificação da arte através dos tempos.
A partir de toda essa análise, é possível chegar à conclusão de que as obras de arte, ao decorrer das eras, foram perdendo seu objetivo principal, que era transformar os sentimentos, devoções e crenças do artista em uma determinada produção que as eternizariam, tendo em vista que, na contemporaneidade, a obra autêntica não é mais apreciada, sendo substituída pela reprodução em massa de produções sem muita criatividade e inovação. Isso tudo faz com que indivíduos que prezam obras sem aura continuem sendo vítimas de uma grande alienação, o que os mantém presos a uma massa e a antigos paradigmas que os impedem de ter opiniões individuais.
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