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Contos de Grimm | Os Melhores Contos de Fadas Existentes

by - junho 15, 2017

Os Irmãos Grimm foram dois grandes escritores alemães, famosos pela criação de diversos contos e fábulas infantis. Os "contos de fadas" que vocês conhecem atualmente são baseados principalmente nas histórias desses dois, que são os pais das obras originais.

Foto: Margarita Kareva
Eu li livros desses dois desde que era bem pequena, e mesmo antes de aprender a ler, minha mãe já recitava as belas obras deles para mim. Diferentemente dos contos de fadas atuais, muitas das histórias dos Irmãos Grimm não possuem um final do tipo felizes para sempre, e muitas ainda possuem cenas fortes, apesar do público alvo serem as crianças.

Tais histórias sempre foram bem mais reais, e até melhores do que as de agora. Meus contos favoritos nunca foram Cinderela ou Rapunzel (apesar das versões dos Grimm serem incríveis também), meus favoritos sempre serão A Pastorinha de Gansos, Os doze caçadores, e a Casa da Floresta.

Provavelmente você não conheça esses contos, que fizeram minha infância mais feliz, por isso, os encontrei no site Contos de Grimm e resolvi trazê-los hoje aqui, então aproveite, beba um café, e leia meus 3 contos de fadas favoritos.

A Pastorinha de GansosHouve, uma vez, uma velha rainha que enviuvara desde muito tempo, ficando apenas com uma filha de extrema beleza.
A menina foi crescendo e se tornou uma belíssima jovem; então foi prometida em casamento ao filho do rei de um reino distante. Quando chegou a época de se realizarem as bodas, ela teve que partir para o reino do noivo. A rainha viúva deu-lhe um riquíssimo enxoval que, além de muita roupa maravilhosa, incluia também uma grande quantidade de móveis finamente cinzelados, jóias raras, cristais finíssimos e uma infinidade de objetos de ouro e prata; em suma, deu-lhe o máximo que convinha a uma princesa real, pois amava ternamente sua única filha. Para a longa viagem deu-lhe ainda uma aia, incumbida de acompanhá-la e entregá-la nas mãos do
príncipe. No momento de partir, as duas receberam um cavalo cada uma, sendo que o da princesa se chamava Falante, porque sabia falar.
Na hora das despedidas, a rainha foi ao quarto; com uma faquinha de ouro feriu-se no dedo e deixou pingar três gôtas de sangue num alvo lencinho de rendas; em seguida, entregou o lenço à filha, recomendando-lhe:
- Minha querida filha, guarda isto com o máximo cuidado; ser-te-á de grande auxílio na viagem.
Abraçaram-se e beijaram-se com grande tristeza; depois de guardar o lenço no decote do vestido, a princesa montou a cavalo e partiu. Após algumas horas de viagem, ela teve sêde e pediu à aia:
- Apeia e vai buscar, com o copo que trouxeste para mim, um pouco de água daquele regato; estou com muita sêde.
- Se tendes sêde, - respondeu a aia rispidamente - descei do cavalo e ide beber no regato, pois não me agrada ser vossa criada.
Como estivesse realmente com muita sêde, a princesa apeou, foi até ao regato e bebeu; não tendo tido a coragem de pedir o copo de ouro bebeu nas mãos, suspirando: "Ai meu Deus!"
As três gôtas de sangue do lencinho, disseram:
- Ah, se tua mãe o soubesse, o coração dela se partiría de dor!
A princesa, porém, não disse nada; voltou humildemente a montar o cavalo e a viagem continuou. Cavalgaram muitas milhas. O dia estava quente e o sol abrasador; a princesa tornou a sentir sêde e, ao chegar perto de outro regato, já esquecida da grosseria da aia, pediu- -lhe outra vez que lhe fósse buscar um copo de água.
Mas a aia respondeu com desdém:
- Quereis beber? então apeai e ide beber. De hoje em diante proíbo-vos de me considerar vossa criada.
A princesa desmontou do cavalo, debruçou-se junto do regato e bebeu pelas mãos em concha, suspirando: "Ai meu Deus!"
E as três gotas de sangue responderam:
- Ah, se tua mãe o soubesse, o coração dela se partiría de dor!
Estando ela assim debruçada sôbre o regato, o lenço caiu dentro da água e foi levado pela correnteza abaixo. Porém, como ela estivesse tão aflita e preocupada, não deu por isso. Mas a aia bem que viu e exultou; pois daí em diante a noiva estava sem seu poder. Tendo perdido aquelas preciosas gôtas de sangue, tornara-se sem forças e incapaz de qualquer autoridade. Quando a princesa fêz menção de montar o cavalo, a aia antecipou-se-lhe, dizendo com altivez:
- Não, não. Falante agora me pertence; tu ficarás com o meu sendeiro.
A pobre princesa teve de submeter-se. A aia ordenou-lhe ainda que despisse os ricos trajes reais e os substituísse pelos seus rústicos vestidos de simples criada, fazendo-a jurar, sob pena de morte, que do ocorrido não contaria nada a ninguém na côrte de seu noivo.
Falante, porém, tudo vinha observando com grande atenção.
Depois disso, a aia montou no cavalo Falante e a noiva legítima no velho sendeiro; e assim fizeram o resto da viagem.
Ao chegarem ao castelo real, foram recebidas com grandes manifestações de alegria; o noivo saiu-lhes ao encontro e ajudou a aia a descer do cavalo, certo de que fôsse a sua noiva. Acompanhada de luzido cortejo ela foi introduzida no paço, enquanto a verdadeira princesa ficava lá fora no pátio.
Mas o velho rei, pai do noivo, que estava à janela, viu a delicada e mimosa jovem parada no meio do pátio completamente esquecida. Impressionado pela sua graça e beleza, foi perguntar à falsa noiva quem era aquela criatura que trouxera consigo e deixara lá fora.
- Oh, - disse a noiva - é uma pobre môça que apanhei na estrada para me fazer companhia. E' bom dar- -lhe alguma ocupação para que não fique por aí vagabundando.
O rei não sabia que serviço lhe podia dar; finalmente, depois de pensar um pouco, teve uma idéia.
- Tenho um rapazinho que pastoreia os meus gansos; ela poder ia ajudá-lo!
Assim a pobre princesa foi pastorear gansos junto com o rapazinho, que se chamava Conrado.
Alguns dias depois a embusteira disse ao noivo:
- Meu querido noivo, desejo pedir-vos um favor todo especial.
- Sereis atendida com o maior prazer, - respondeu o príncipe.
- Desejo que mandeis cortar a cabeça do cavalo em que vim montada, pois deu-me muitos aborrecimentos pelo caminho.
Na verdade, porém, ela estava com mêdo de que o cavalo revelasse os maus tratos que dispensara à princesa. As coisas estavam num tal pé que não foi possível ao príncipe deixar de atendê-la e o bom cavalo Falante teve de morrer.
A novidade espalhou-se e, ao ter conhecimento dela, a princesinha desmaiou. Então chamou, em segrêdo, o magarefe que matara o cavalo e, cautelosamente, prometeu que lhe daria umas moedas de ouro se lhe prestasse um pequeno favor. Havia na cidade um portão com um grande arco de pedra, escuro, sob o qual ela tinha que passar, diàriamente, com os gansos. Queria que o homem pregasse a cabeça do cavalo nesse arco a fim de ela ter a consolação de ver ainda algumas vêzes o querido corcel.
Na manhã seguinte, muito cedo, a princesa e Conra- do, tocando os gansos, passaram sob o arco de pedra e ela exclamou tristemente:
- Ó Falante, que aí estás pregado!
e a cabeça respondeu:
- Ó pequena Rainha que cuidas
dos gansos de teu senhor;
se tua mãe o soubesse,
o coração dela se partiria de dor!
Ela continuou, silenciosamente, o caminho para fora das muralhas da cidade, rumo ao campo onde os gansos iam pastar. Chegando a um belo relvado, a princesa sen- tou-se e soltou a maravilhosa cabeleira de ouro. Conra-
do ficou tão deslumbrado com o brilho dos cabelos dela que desejou arrancar alguns. A princesa, então, cantarolou:
- Sopra, sopra forte, amigo vento!
Carrega para além dêste prado
o chapèuzinho de Conrado,
e não permitas que êle o alcance
antes de pronto o meu penteado!
No mesmo instante, levantou-se um forte vento que levou para longe o chapèuzinho de Conrado, obrigando o pobre rapazinho a correr-lhe atrás pelo campo afora.
Quando, finalmente, voltou com o chapèuzinho, ela já tinha penteado os cabelos e prendido sob a touca, de modo que êle não conseguiu furtar nem um fio dos cobiçados cachos.
Então Conrado ficou muito zangado e não quis mais falar com ela; assim guardaram os gansos, em silêncio, até ao cair da noite; depois regressaram ao castelo.
Na manhã seguinte, tornando a passar sob o arco de pedra, a princesa suspirou a repetiu as palavras da véspera:
- Ó Falante, que aí estás pregado!
Falante respondeu:
- Ó pequena Rainha, que cuidas
dos gansos de leu senhor;
se tua mie o soubesse,
o coração dela se partiria de dor!
No campo, ela sentou-se outra vez no relvado e pôs- se a pentear a magnífica cabeleira de ouro. O rapazinho correu para ela no intuito de roubar-lhe um cacho; mas ela, mais que depressa, repetiu o verso:
- Sopra, sopra forte amigo vento!
Carrega para além dêste prado
o chapèuzinho de Conrado.
e não permitas que êle o alcance
antes de pronto o meu penteado!
O vento soprou com fôrça e carregou para longe o chapèuzinho de Conrado, que foi obrigado a correr para apanhá-lo. Quando voltou, a princesa já estava penteada e com a touca na cabeça; assim, nem desta vez pôd' o rapazinho satisfazer o desejo de arrancar-lhe alguns fios de cabelo. Ficou muito zangado e deixou de falar com ela durante o resto do dia. Mas à noite, assim que chegaram ao castelo, Conrado foi ter com o rei, declarando:
- Não quero mais pastorear os gansos junto com essa môça.
- Por quê? - indagou o velho rei.
- Porque ela me aborrece o tempo todo!
O rei, então, exigiu que êle contasse direito o que se passava.
- Ora, tôdas as manhãs, - disse Conrado - quando passamos com os gansos sob o arco de pedra, ela fala com a cabeça de cavalo lá pendurada, dizendo:
- ó Falante, que aí estás pregado!
e a cabeça lhe responde:
- Ó pequena Rainha, que cuidas
dos gansos de teu senhor;
se tua mãe o soubesse,
o coração dela se partiria de dor!
Depois contou a história do vento que lhe arrancava o chapéu da cabeça e êle tinha que correr por todo o campo a fim de apanhá-lo.
O rei mandou que fôssem, ainda no dia seguinte, levar os gansos ao prado; e, muito cedo, foi postar-se atrás do arco e ouviu a môça que falava à cabeça do cavalo. Depois seguiu-a, ocultamente, até ao prado e se escondeu atrás de uma moita. Com os próprios olhos viu a pastorinha sentar na relva e soltar a maravilhosa cabeleira que cintilava como ouro puro. E viu o rapaz aproximar-se e ela dizer depressa:
- Sopra, sopra forte amigo vento!
Carrega para além dêste prado
o chapèuzinho de Conrado,
e não permitas que êle o alcance
antes de pronto o meu penteado!
Mal a pastorinha acabou de dizer o verso uma forte lufada de vento carregou para longe o chapéu de Conrado, que saiu a correr para apanhá-lo. Enquanto isso, a môça penteou tranqüilamente os formosos cachos de ouro; e o rei tudo observava com grande atenção.
Sem que fôsse notado, o rei voltou para o castelo e, à noite, quando a pastorinha regressou, chamou-a para um canto e perguntou-lhe o que significava tudo aquilo.
- Não posso contar, Majestade, nem posso revelar a ninguém a minha mágoa; jurei à luz do sol nunca dizer nada a ninguém; se quebrar meu juramento, perderei a vida.
O rei insistiu com firmeza, mas não conseguiu arrancar-lhe mais uma só palavra. Então lhe disse:
- Pois bem, já que não queres contar a mim o teu segrêdo, confia-o ao fogo da lareira.
Dito isto, virou-lhe as costas e foi-se embora.
Ficando sozinha, a môça debruçou-se sôbre o fogo chorando e lamentando-se amargamente; desabafou sua grande mágoa, dizendo:
- Eis-me aqui só e abandonada de todos! No entanto, sou uma princesa. Ao passo que uma perversa aia, que me forçou a trocar meus vestidos reais pelos dela, está usurpando meu lugar junto ao príncipe, meu noivo. E eu sou obrigada a pastorear gansos no prado e fazer os trabalhos mais grosseiros. Oh, se minha mãe o soubesse, o coração dela se partiría de dor!
O rei, que fingira afastar-se, estava postado atrás da lareira e ouviu tôda a confissão da pobre môça. Voltou para o salão e mandou a pastorinha sair de junto a lareira. Depois deu ordens às camareiras para que a vestissem e ataviassem como convinha a uma verdadeira princesa. Ela ficou tão linda que parecia um sonho.
Chamando o filho, o rei pô-lo ao par de tudo, revelando que ficara com a falsa noiva, uma simples aia. enquanto a verdadeira noiva ia pastorear gansos no prado.
O príncipe ficou deslumbrdo ante a beleza e encanto da môça; mandou logo preparar um suntuoso banquete para festejar o encontro e convidar todos os amigos e parentes. O noivo sentou-se à cabeceira da mesa, tendo a princesa de um lado e a aia do outro; esta última estava tão deslumbrada com a magnificência da princesa que não a reconheceu naqueles trajes fulgurantes.
Quando terminaram de comer e beber e os convivas estavam no auge da animação, o velho rei contou à aia, com grande habilidade, uma história bem semelhante à dela e perguntou:
- Que castigo achas que merece uma pessoa que assim trai o seu amo?
A falsa noiva, sem desconfiar de nada, respondeu:
- Acho que uma pessoa assim deveria ser desnudada e colocada dentro de um barril todo forrado de pontas de pregos, ao qual deveríam atrelar dois fogosos cavalos que o arrastassem pelas ruas da cidade até ela morrer.
- Essa criada perversa és tu, - disse o rei - e acabas de proferir a tua própria condenação; assim será feito.
A sentença foi logo cumprida. Depois, o príncipe casou com a verdadeira princesa e ambos reinaram durante longos anos na mais completa felicidade.
Os Doze Caçadores
Há muito tempo atrás aconteceu que um príncipe ficou noivo da filha do rei de um país vizinho. Eles se amavam muito e, quando festejavam o noivado, veio a notícia de que o pai dele estava muito mal. Então, despedindo-se apressadamente, o príncipe colocou um precioso anel no dedo da noiva e lhe disse:- Este anel é para você não se esquecer de mim. Tenho que deixá-la agora, mas,assim que me tornar rei, virei buscá-la.E, beijando-a, partiu. Chegando ao castelo do pai, encontrou-o já moribundo e seupesar foi tão grande que nem se lembrou de comunicar-lhe o noivado.
- Filho querido, - disse o velho rei com voz muito fraca - dentro em breve partirei para a Grande Viagem. E só irei tranqüilo se você me prometer casar-se com aquela que eu escolhi. E ele disse o nome de uma princesa de um distante reinado.Não querendo contrariar o velho e querido pai em seus últimos instantes de vida, opríncipe respondeu:- Sim, meu pai, Ela será minha esposa.
O velho rei morreu serenamente e, passado o período de luto, o príncipe tornou-se rei e foi obrigado a cumprir o prometido. Pediu em casamento a princesa escolhida pelo pai e foi aceito.Quando a primeira noiva soube disso, quase morreu de desgosto. Seu pai, vendo-atão abatida, disse:- Filha, se o seu noivo não cumpriu a promessa que lhe fez, é porque não a merece.Não fique triste. Peça o que quiser que lhe darei.E ela respondeu:- Paizinho, será que podia me arranjar onze moças iguaizinhas a mim? Com a minhaaltura, o meu tipo?
- Nem que seja para revirar o mundo, você vai ter as suas moças - prometeu-lhe o pai. E, naquele mesmo dia, mandou procurar por todo o reino as onze moças que a filha queria.
Passou uma semana e elas estavam no palácio. Então a princesa mandou fazer doze costumes de caçador, todos iguaizinhos e, quando ficaram prontos, ela e as moças vestiram-se com eles. Depois despediu-se do pai, montou seu cavalo e, acompanhada das moças, dirigiu-se para o reino de seu ex-noivo, a quem continuava amando. Chegando lá, apresentou-se ao rei e perguntou-lhe se não estava precisando de caçadores e se não queria tomar a seu serviço todos eles juntos. O rei não a reconheceu, mas gostou daquela turma de rapazes jovens e bonitos. E, desde esse dia, eles se tornaram os doze caçadores do rei.
Contudo, o rei tinha um leão que o acompanhava por toda a parte, um animal maravilhoso que sabia falar e adivinhava as coisas mais secretas e ocultas. Uma noite, estando os dois conversando, o leão disse:- Então você imagina que tem doze caçadores...
- Imagino não! Eu tenho - corrigiu o rei.- Seria mais exato dizer "doze caçadoras" - tornou o leão.- Por que diz isso?- Por que são doze moças.- Não é possível! - e o rei exigiu que ele provasse o que dizia.
- Isso é fácil! Mande espalhar ervilhas na sua ante-sala, chame os caçadores e verá. Homens têm o passo firme. Quando pisam sobre ervilhas, elas não saem do lugar. Mulheres... Bah! Vai ver só como tropeçam, escorregam e espalham ervilhas para todos os lados.O rei gostou do conselho e assim fez. Aconteceu que o camareiro real ouviu aconversa e, como simpatizava com os caçadores, assim que pôde, foi procurá-los e contou-lhes tudo. A princesa agradeceu-lhe e, depois que ele saiu, ordenou às companheiras:- Amanhã vocês têm que se controlar e pisar firme sobre as ervilhas. Nem uma sópode rolar.
No outro dia, quando foram chamados pelo rei, os caçadores entraram na ante-sala pisando as ervilhas com tanta firmeza que nem uma só rolou. Depois que se retiraram, o rei chamou o leão e disse:- Desta vez você se enganou. Meus caçadores pisam como homens!
- É porque elas souberam que iam ser postas à prova e se prepararam - respondeu o leão. - Mande trazer doze rocas para a sua ante-sala e vai ver o que acontece. Quando passarem por elas, mulheres que são, vão se deter e se alegrar. Homens não fazem isso.O rei concordou. Porém, o camareiro real, também desta vez, escutou a conversa e foiprevenir os caçadores.Quando ficaram a sós, a princesa recomendou àscompanheiras:- Cuidado! Vocês têm que passar pelas rocas sem olhar para elas!No dia seguinte, atendendo ao chamado do rei, elas atravessaram a ante-sala sem
dirigir sequer um olhar para as rocas. Depois que saíram, o rei disse ao leão:- Viu? Eles nem repararam nas rocas!- Claro! Elas vieram prevenidas! Experimente...- Não vou experimentar mais nada! E pare de se referir aos meus caçadores como"elas"!
O leão retirou-se com um ar ofendido e o assunto foi esquecido. O rei continuou com suas caçadas, sempre com seu grupo de rapazes, cada vez gostando mais deles e, entre todos, o seu preferido era a princesa. Um dia, durante uma caçada, vieram avisar que a noiva oficial estava a caminho. Ao ouvir isso, a princesa ficou tão magoada que desmaiou. O rei correu em sua ajuda e, querendo reanimá-la, tirou-lhe a luva. Então viu o anel que lhe havia dado e, observando seu rosto, reconheceu-a. Quando ela abriu os olhos, beijou-a, dizendo:
- Nós nos pertencemos um ao outro. Nada no mundo mudará isso!E ela respondeu baixinho, aninhando-se nos braços dele.- Entre doze caçadores semelhantes, você me preferiu e agora sabe porque...
E o rei mandou uma mensagem à outra noiva, pedindo-lhe que voltasse para o seu reino, pois ele encontrara a esposa que havia perdido. Dias depois o casamento realizou-se com uma linda festa e, mais feliz que os noivos, estava o leão. Seu dom de adivinhar, mais do que nunca, foi reconhecido e valorizado e ele era agora o conselheiro do rei.

A Casa Na Floresta
Houve, uma vez, um pobre lenhador que morava, com a mulher e três filhas, numa pequena choupana, na orla de espessa floresta. Certa manhã, antes de sair para o trabalho, disse à mulher:- Manda nossa filha mais velha levar-me o almoço, do contrário não poderei acabar o trabalho; mas, para que ela não perca o caminho, levarei comigo um saquinho de sementes que irei largando pelo chão.Assim, pois, quando o sol chegou a pique na floresta, a moça encaminhou-se, levando uma marmita de sopa. Mas, aconteceu que os pássaros da colina, os pardais e as cotovias, tinham comido as sementes que o pai deixara cair pelo caminho e a moça não conseguiu descobrir a pista. Contudo, foi andando sempre para a frente, até que o sol se pôs e caiu a noite. Na escuridão crescente, as folhagens das árvores sussurravam entre si, as corujas piavam e, então, a moça começou a tremer de medo.Subitamente, ela avistou, à distância, uma luz brilhante entre as árvores.- Deve morar alguém lá, - pensou ela, - que me dará pousada por esta noite.E encaminhou-se na direção da luz. Não demorou muito, chegou a uma casa que tinha todas as janelas iluminadas. Bateu na porta e ouviu uma voz rouca gritar de dentro:- Entra!A moça entrou no corredor escuro e foi bater na porta da sala.- Entra, pois! - tornou a gritar a voz.A moça abriu a porta e viu um velho encanecido, sentado diante de uma mesa, com o rosto mergulhado nas mãos; a longa barba branca deslizava por sobre a mesa e ia parar no chão. Junto à lareira estavam três animais: uma franguinha, um franguinho e uma vaca malhada. A moça contou ao velho o que lhe havia acontecido e pediu que lhe desse agasalho por aquela noite. O velho então perguntou aos bichos:Bela vaca malhada!E tu, minha franguinha,meu belo frangote de crista,dizei-me: que achais disto?- Co, co, co, ro, co; tuc! - responderam os animais; naturalmente isso queria dizer: "Não temos nada com isso!," porque o velho disse à moça:- Aqui não falta nada: vai à cozinha e prepara a ceia para nós.Na cozinha, a moça encontrou tudo em quantidade e preparou uma deliciosa ceia, mas não se lembrou dos animais. Uma vez pronta, levou para a mesa uma bela terrina cheia e, sentando-se ao lado do velho, comeu até fartar-se. Aí perguntou:- Estou tão cansada! onde é que há uma cama para que possa deitar-me e dormir?Os animais responderam:Com ele sozinha comeste,sozinha com ele bebeste,de nós não te lembraste;nos dirás amanhã se é boaa cama em que te deitaste!O velho disse-lhe:- Sobe aquela escada e encontrarás um quarto com duas camas. Ajeita bem o colchão e põe lençóis limpos; daqui a pouco irei dormir também.A moça subiu e, depois de ter arrumado bem as camas, deitou-se sem se lembrar do velho. Daí a pouco, porém, o velho subiu; aproximou-lhe do rosto sua vela acesa para melhor contemplá-la e meneou a cabeça. Certificando-se de que ela dormia profundamente, abriu um alçapão e deixou-a cair na adega subterrânea.Ao anoitecer, o lenhador chegou em casa e ralhou muito com a mulher por o ter deixado sem comida o dia inteiro.- Não é minha culpa, - respondeu a mulher. - Nossa filha saiu com o almoço, mas acho que se perdeu no caminho; voltará amanhã.Na manhã seguinte, o lenhador levantou-se muito cedo para ir à floresta e recomendou que a segunda filha lhe levasse o almoço.- Levarei um saquinho cheio de lentilhas, - disse ele. - São maiores do que as sementes e nossa filha poderá vê-las facilmente; assim não perderá o caminho.Ao meio-dia, a jovem encaminhou-se para levar o almoço ao pai, mas as lentilhas haviam desaparecido: os passarinhos as tinham comido, como no dia anterior, sem deixar o menor vestígio. Tal como a irmã, andou vagando pela floresta até anoitecer; também ela foi dar à choupana do velho, onde bateu e pediu comida e abrigo para aquela noite. O velho de barbas brancas novamente se dirigiu aos animais:Bela vaca malhada!E tu, minha franguinha,meu belo frangote de crista,dizei-me: que achais disto?- Co, co, co, ro, co; tuc! - responderam eles. E tudo correu como na noite precedente. A môça preparou uma boa ceia, comeu e bebeu com o velho, sem se preocupar com os animais.Quando ela perguntou onde era a cama, eles repetiram:Com ele sozinha comeste,sozinha com ele bebeste,de nós não te lembraste;nos dirás amanhã se á boaa cama em que te deitaste!Quando ela ferrou no sono, o velho chegou, olhou para ela meneando a cabeça e deixou-a, também, cair para dentro da adega.No terceiro dia, o lenhador disse à sua mulher:- Hoje tens que mandar a terceira filha levar-me o almoço; ela sempre foi obediente e boazinha; tenho certeza que seguirá o caminho certo e não ficará perambulando pela floresta como as malandras das irmãs!A mulher não queria consentir, dizendo:- Terei que perder, também, minha predileta?- Nada temas, - respondeu o marido, - a menina não se perderá pelo caminho, pois é muito sensata e prudente. Ademais, levarei um saco de grão-de-bico que irei espalhando pelo chão; são mais graúdos do que as lentilhas e indicarão melhor o caminho.Mas, quando a moça saiu com o cestinho no braço para levar o almoço, as pombas-rolas haviam dado cabo dos grãos-de-bicos e ela ficou sem saber que rumo tomar. Toda aflita pensou em como o pai estaria com fome e não tinha o que comer e, também, no desespero da mãe, quando não a visse voltar para casa. Assim caiu a noite e ela avistou a luzinha brilhando na choupana do velho; foi até lá, bateu na porta e pediu, gentilmente, um pouco de comida e pouso para aquela noite. O homem das barbas brancas tornou a perguntar aos animais:Bela vaca malhada!E tu, minha franguinha,meu belo frangote de crista,disei-me: que achais disto?Co, co, co, ro, co; tuc! - responderam eles.Então a moça dirigiu-se para a lareira e acariciou os animais, alisando as penas da franguinha e do belo franguinho e afagando o chifre da vaca malhada. Depois, por ordem do velho, preparou uma excelente comida e, quando pôs a terrina na mesa, disse:- Enquanto eu mato a fome, estes pobres animais nada comem? Na cozinha, há tanta fartura; tratarei primeiro deles.Saiu da sala, foi buscar milho, espalhando-o diante do franguinho e da franguinha e para a vaca trouxe uma braçada de feno cheiroso.- Bom apetite, queridos animaizinhos, - disse ela; - se tiverem sede, aqui está água para beber.Colocou junto deles um balde cheio de água; o franguinho e a franguinha mergulharam os bicos na água, erguendo em seguida a cabeça como fazem as aves quando bebem; também a vaca malhada bebeu um bom trago. Depois de ter tratado dos animais, a moça sentou-se à mesa com o velho e comeu o que havia sobrado para ela. Não demorou muito, o franguinho e a franguinha meteram a cabeça em baixo da asa para dormir e a vaca malhada começou a pestanejar de sono. Então a menina perguntou ao velho:- E nós? Não vamos também descansar?O velho perguntou aos animais:Bela vaca malhada!E tu, minha franguinha.mau belo frangote de crista.disei-me: que achais disto?Os animais responderam: Co, co, co, ro, co; tuc! Co, co, co, ro, co; tuc! Querendo com isso dizer:Com todos nós comeste,com todos nós bebeste,em nós todos pensaste,um bom descanso mereceste!A moça subiu a escada, arrumou as camas e forrou-as com lençóis limpos. Quando ficaram prontas chegou o velho e se deitou; a barba branca chegava-lhe aos pés.A menina disse as orações, deitou-se na outra cama e adormeceu.Dormiu, tranquilamente, até a meia-noite, quando foi acordada por um grande barulho na casa. Ouvia-se a cabana estalar e chiar por todos os cantos, as portas abrindo e fechando como se empurradas pelo vento, as vigas gemendo como se as estivessem arrancando, a escada parecia ruir, por fim produziu-se um ruído como se o telhado tivesse desabado. Logo, porém, restabeleceu-se o silêncio e a menina, vendo que não lhe tinha acontecido nada, voltou a dormir sossegadamente.Mas, pela manhã, foi acordada pela luz forte do sol e qual foi o espetáculo que se lhe oferecia ao olhar? Viu- se deitada num salão enorme e, ao redor dela, tudo era suntuoso como num palácio real. Nas paredes, viam-se representações de flores de ouro desabrochando num campo de seda verde; a cama era de marfim e a colcha de veludo escarlate; e, sobre uma banqueta aí porto, havia um par de chinelinhos com pérolas. A moça julgou estar sonhando, mas nisso entraram três criadas ricamente vestidas e perguntaram quais eram as ordens.- Não vos incomodeis, - respondeu a moça; - levanto-me já, e vou preparar o almoço para o velho e, em seguida, darei comida também para o franguinho, para a franguinha e para a vaca malhada.Assim falando, pensou que o velho já tivesse levantado mas, olhando para a cama dele, viu ali dormindo uma pessoa desconhecida. Enquanto ela o estava assim contemplando, pois achava-o bonito e moço, ele despertou, levantou-se e disse:- Eu sou príncipe, que uma bruxa perversa transformou em velho caduco, condenado a viver solitário nesta floresta, sem outra companhia além de uma galinha, um galo e uma vaca malhada, que eram meus três criados assim transformados. O encanto só cessaria quando aparecesse uma jovem de coração tão bondoso que se compadecesse dos animais como de mim. E tu foste essa jovem. Graças a ti, esta noite, à meia-noite, fomos todos libertados e a velha cabana da floresta voltou a transformar-se em castelo real.Depois de vestir-se e arrumar-se, o príncipe mandou os três criados buscar, numa carruagem, os pais da jovem, para que viessem assistir às núpcias. Mas a moça perguntou:- Mas, e minhas irmãs, onde estão?- Prendi-as na adega. Amanhã, serão reconduzidas à floresta e dadas como criadas a um carvoeiro, até modificarem o mau gênio; até aprenderem a não deixar os pobres animais sofrerem fome.

Bom gente, eu sei que esse post ficou bem grande, mas simplesmente precisava compartilhar meu amor por essas histórias com vocês. Espero que tenham gostado!

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